o que é, o que é?

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Seria a nossa época, o nosso regime econômico, nossos costumes ou apenas um costume de ser jovem? Esta confusão que nos assola, será que assola apenas a mim? E, se sim, por que a mim, e não a quem me vê? Porque não aos outros?

O que é, o que é, que tira nosso sono e vontade?

E se nada for? E se for devaneio, se nos consome tanto, ao corpo inteiro, mas no fundo nada é e nada nunca foi? E se for frescura, coincidência, ou alguma dessas coisas que acontecem e não se deve dar atenção?

Se houver algum irmão por aí, que levante a mão e se manifeste.

(texto escrito em 23 de maio de 2012)

Barcos e flores de gente

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Corri e andei. Procurei em lugares estranhos por coisas que não sei bem o que eram; talvez todas fossem você. À beira do precipício, meu corpo enfrentando o mar, seu barco me encontrou. O mesmo barco de sempre, remando em novos mares. Talvez também estava perdido – ou estava ali para encontrar?

Seus braços me alcançam e eu vou no escuro… Sem medo de tropeçar, vendo mais do que se quisesse ver. Não preciso de luz, ele já é a luz; suave, nada incômoda, quente. Quente como o sol que é para mim.

Sente-se ao meu lado. Sente-se no trono que fiz, das pétalas de minhas próprias flores. Quanto tempo tomou para ficar pronto, e agora que está, é só seu. Sente-se, deixa-me ouvir sua voz… O amanhã não existe, até onde sei. Ontem está tão longe que não lembro mais. Só há você e eu, o silêncio e o escuro, e as cores do nosso amor.

Julieta

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Sort of the place I had in mind when writing this short story.Meus olhos já estão fechados, mas os tapei também com minhas mãos. Não posso mais ouvi-la, mas sei que estava aqui. Sinto seu cheiro, se é que tem cheiro…

Vá embora. Por favor, se puder me ouvir, vá embora. Vá embora!

Não sei há quanto tempo estou aqui, sentado no chão, protegendo-me de nada.

Acho que agora ela está mais perto, tenho vontade de chorar. Ela sempre me dá vontade de chorar. Julieta… Por que? Você não precisa fazer isso, minha querida. Se puder me ouvir, vá embora.

Já deve ser tarde. O que diabos estou fazendo aqui? Chega. Esteja ela lá ou não, eu vou para a minha cama. Temo que esteja… Mas o corpo dói, e não serei intimidado dentro da minha casa. E intimidado por Julieta! Que besteira.

Eu me envergonho em admitir: não parei em lugar algum antes de chegar na cama. Não fui ao banheiro, ou comi, ou tomei água, por medo de Julieta… Eu sei que você está aí, eu sei! Fecho os olhos, e meus pensamentos se acalmam, já tenho sono… dormirei logo… Sem Julieta.

Na madrugada, acordo para ir ao banheiro. Ledo engano, “dormirei sem Julieta”. Acordo, e seus olhos grandes e cinzas me fitam, como se estivessem ali, me fitando, desde o momento que fechei os meus. Vá embora, eu sei que você sabe que eu quero que você vá. Então para que serve essa teimosia, Julieta? Me deixe!

Não consigo mais dormir. Vou ser obrigado a conversar com você, é isso? Que seja, Julieta, que seja. Tenho tempo para conversar. Sempre tenho tempo para conversar com você…

– Julieta…

– Sim.

– Está fazendo o que aqui, ainda?

– Estou na minha casa.

– Pois esta é a minha casa.

– É minha, também.

– E se eu sair daqui? Eu vou, tudo bem? E aí você me deixa?

– Nunca vou te deixar. Você nunca vai me deixar te deixar, e nem pode.

– Por que eu não deixaria?

– Não consegue me deixar, menos ainda esquecer.

– Ah, consigo. Já esqueci ant…

– Eu sei. Você superou namoradas, amores, paixões que não deram certo, amigos que te esqueceram… E vê que foi até fácil. Não pareceu, no início, mas foi; só não pense que comigo também será. No momento que você morrer, eu estarei lá. Quando suspirar pela última vez, será para mim. Sou o seu futuro. As pessoas passam, mas eu fico; não há outra opção. Não escolhemos que fosse assim, mas é. Se você quiser fugir, eu terei de querer também, e teremos de fugir juntos. Não há escapatória.

– Você não me convence com seu discurso intenso.

– Sabe que convenci! Sabe que é verdade! Eu sei, eu conheço mais a você do que você mesmo.

– Impossível.

– É tanto possível quanto é verdade. Eu sou sua e você é meu, meu Romeu, ainda que isso faça com que você se esconda atrás dos móveis.

– Meu nome não é Romeu.

– E nem o meu é Julieta! E isso faz diferença?

Não. Não faz diferença. Sei que não, Julieta…

– Eu não posso ir embora. E você também não. Não faça as coisas serem mais difíceis do que são, como é do seu costume… Só aceite a minha presença.

Ficamos quietos, apenas olhando. Não sei que sentimento há entre nós. Eu não tenho muito tempo, e sei disso. Sei que é por isso que você apareceu assim que tudo começou a piorar; para me preparar, me ajudar. Mas eu quero aproveitar! Tão pouco tempo e tanta vida! Tanta felicidade, tanto sofrimento, a delícia de estar vivo… Com dores, mas vivo. Eu quero aproveitar. Eu quero aproveitar?

Em alguns minutos de silêncio, juntei a coragem que tanto me faltou.

– Eu quero me juntar a você. Eu vou me juntar a você, Julieta.

– Não, não posso te obrigar a isso. Não posso e nem quero. Eu espero. Viva a sua vida, eu espero.

– Para que esperar? Agora não faz mais diferença. Eu quero ver o mundo com você, é a única chance que tenho de vê-lo. Não pode ser agora?

– Isso é precipitado demais.

– Ah, agora é precipitado? Não!

– Poderemos ver o mundo, eu poderei, finalmente. Mas agora? Agora não falta tanto. Espere mais um pouco…

– Não! Nada vai mudar, Julieta, nada. Eu vou morrer, e isso é certo.

– Você não sabe quando.

– Mas você sabe. Não me faça sofrer mais do que preciso.

Ela sabe. Seus olhos e seus cabelos translúcidos sabem. E eu sei também, Julieta! Posso ver através de você.

Fui até o escritório, deixando-a sozinha. Ela me seguiu, como esperei que fizesse. Durante todo o tempo em que escrevi as cartas, Julieta as inspecionava por sobre meu ombro.  – Não faça isso.

– Eu já me decidi.

– Não faça isso!

– Não faça isso, VOCÊ! Vamos, Julieta. Me ajude.

Ela me indicou o caminho até o banheiro, e pediu que eu enchesse a banheira.

– Tem certeza que é a melhor maneira?

– Não, nunca fiz isso antes. Não se preocupe, eu vou estar ao seu lado. Eu o ajudarei. A não ser que… que você não queira.

Fitei seus olhos espectrais, sem mágoa ou cinismo. Penso em todos os olhares que me formaram: orgulhoso e amável em meus pais, fraternalmente provocador em minha irmã, os olhos sorridentes dos meus amigos – tantos olhares significativos! E o seu olhar, Julieta, o último, que agora me acolhe na eternidade.

Adeus, mundo velho.

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Vocês, já regozijando o fim do mundo, sentem bem suas bundas em seus respectivos sofás e cadeiras, pois a novidade que tenho para contar pode não parecer, para alguns, do melhor cunho.

Ei-la: o mundo não vai acabar.

Pode lhes parecer chocante à primeira vista, mas resistam à tentação de não desacraditarem e aceitem que, feliz ou infelizmente, o mundo há de continuar seguindo. Admira-me que no século XXI ainda há pessoas que tomam profecia acima da ciência, e até mesmo alguns “ateus”; não que a ciência esteja sempre certa, mas relaxem, meus camaradas, não é nesse ano que viramos todos poeira. 

Tendo dito isso, já está mais do que na hora de vocês começarem suas listas. Já está mais do que na hora de mentir que vão emagrecer, aproveitar a vida, andar de bicicleta, comprar menos sapatos, serem menos rabugentos ou qualquer outra coisa. E enquanto estiver nisso, aproveite para, quem sabe, mudar seus hábitos hoje, apenas mais um dia no calendário – porque, veja, primeiro de janeiro também é isso, apenas mais um dia no calendário.

Eu, por exemplo, tentarei postar mais. Ainda que ninguém leia, há de se deixar algo a ser lido quando o mundo acabar.

Uvas anônimas

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Passeava por entre as gôndolas de um supermercado qualquer, repleto de luz e sacos de plástico, quando o viu. A reação foi instantânea. Escondeu-se no corredor no qual se encontrava e esperou pacientemente que ele passasse, sem vê-la. Esperou mais alguns segundos e seguiu com o carrinho de compras para o açougue. E quem mais poderia estar na fila – olhando justamente para a sua direção naquele momento – senão…

No meio de sua tentativa patética e frustrada de dar meia-volta, ele a chamou.

– Ei!

Ignorou. Provavelmente não era com ela, mesmo. Nunca era.

– Ei! Eu estou falando com você.

Virou-se lentamente:

– Oi, é comigo?

– É sim.

Silêncio.

– Eu só ia pedir… Eu sei que…

Seu coração acelerou. Era ele, conversando com ela. Finalmente! Será que seria agora, o esperado momento? Assim, no açougue do mercado? Melhor do que nada, claro… Era agora!…

-…é estranho, mas eu queria saber onde você comprou esse pacote de uvas. Eu não consegui achá-los em lugar nenhum hoje!

– Ah… – sentiu seu coração parar e voltar aos pouquinhos, os olhos já quase perdendo a vontade de segurar as lágrimas – era o último pacote.

E o silêncio, novamente.

– Você quer levar? Eu não gosto muito de uva, mesmo.

– Não, que é isso, imagina. Obrigado, de qualquer forma.

Tirou o pacote do seu carrinho e colocou no dele.

– Fique com o pacote.

– Obrigado.

– De nada.

Deu meia-volta, dessa vez com sucesso, e foi direto ao caixa. Até esqueceu de comprar carne, até esqueceu que carne ia comprar. Carregou sozinha as poucas sacolas até sua casa, onde entrou também sozinha, e passou a noite sozinha, seguindo-o na surdina por todos os cantos que as redes sociais permitiam.

(E as uvas não tiveram mais o mesmo gosto…)

No caminho certo

 A imagem acima representa exatamente o que estou buscando agora para minha vida. Pode soar simplista, mas a vida de excessos já teve seu tempo comigo. Para quê exigir mais de onde não se recebe nada? Para quê arranjar tantos problemas quando se pode sozinho curtir seus momentos únicos? A ideia é a de ser independente.

Num processo de amadurecimento, escolhas mudam e isso é certeza – o que num dia foi o ideal, hoje parece supérfluo. Buscava-se conforto de uma forma egoísta, e quem sabe tudo aquilo não passava de uma mera competição, algo criado por esse padrão consumista fixado. Mostrar-se melhor, dizer as vantagens próprias e gastar horas no Facebook para manter-se a par do que merecia ser conferido eram atividades que se tornaram anteriores a essa fase.

Meus gostos não são ótimos e por vezes já pensei que eu não posso afirmar que ‘gosto disso’ ou ‘entendo daquilo’ pois aplicando-se a passatempos ecléticos, não tenho um conhecimento bem específico e profundo sobre um dos hobbies. Uma vez pensava que entendia de livros/literatura, agora acho que não; depois acabei negando que entendia de música e de muitas coisas mais. No fim ainda admito que talvez no caminho traçado desses últimos anos, possa ter esquecido de admirar a natureza, concentrado que estava com as pessoas, mas esta agora é uma chance de aperfeiçoar-me em quem realmente sou.

Passatempo

Image Nada como o Twitter para dar sequência ao processo de purificação do passado e esquecimento 2.0:

As tarefas cotidianas são excelentes também, mas a ironia bem elaborada que por vezes é encontrada no site faz com os neurônios faísquem. Claro que há pessoas insuportavelmente tediosas com seus abismos sentimentais, mas no balanço geral, o humor ácido vence. Algumas pérolas seguem abaixo:

 

“biscate não sai na chuva com medo de virar canja”

“Estou em um relacionamento de longa distância porque o meu namorado mora no futuro.”

“Internet, essa fantástica fabrica de modinha”

“No jogo do facebook, ou você causa inveja nos amigos ou você morre.”

“O mundo dá tantas voltas. Não sei como ainda não estou tonta.”

“Livros da lista do vestibular são escolhidos para que você não consiga ler de tão chato que o livro é”

“Tia que curte Power point de gatinho e não pega vírus = poser”

“Pense pelo lado positivo: enquanto você dá um gelo em mim eu aproveito e uso na minha vodka.”

“Adesivo fosco que cobre todo o carro: a marca do cretino moderno.”

“Com o tanto que a humanidade já desperdiçou de tempo jogando Sudoku, dava pra ter encontrado a solução da crise do Euro.”

“achei 25 centavos acho que já rola de comprar algumas terras na grécia”

“”vc precisa arrumar um namorado”. amg, não arrumo nem meu quarto.”

“Gays servem pra descobrir e catalogar subcelebridades.”

“eu com 12 anos assistia bananas de pijamas, hoje em dia meninas de 12 anos já vêem outro tipo de banana e sem pijama mesmo.”

“São tantas minorias aparecendo que todos acabam fazendo parte de alguma. O que não faz sentido, porque a maioria faz parte de uma minoria.”

Cura

A data escolhida para abordar o tema não poderia de forma alguma ser mais propícia. Iniciado no último dia do mês e ainda num dia que assim como a minha querida vida, se repete de quatro em quatro anos, tornando-se previsível. Uma postagem deste cunho merece algo que a contemple, que a gratifique acima de tudo; então nada melhor do que as honoráveis divagações da minha inquietação interior.

Os 29 dias, que aqui pareceram extremamente calmos, surtiram um efeito de maresia.  Um pouco de falta de propósito e uma pitada de vergonha fizeram com que a roda girasse e mais uma mudança acontecesse. O marasmo, quem sabe, também teve sua parcela na contribuição para que ela se tornasse efetiva. Não simples, mas grandiosa de significado; estratégica aliás.

Voltar as raízes, fazer comparações, medir, pesar, compassar. Tive tempo. Deitei espaço à linha do tempo e deixei os ponteiros correrem contando as horas. Fiz isso e nada melhor agora que praticar o desapego. Ver e ter certeza de que muito do que se repete só tem um culpado – encarecidamente intitulado pelo vulgo como eu.

De fato, ter certas manias, algumas obsessões e ainda não ser coerente não tornam quem você é mais único. Pode soar que um gosto ou uma opinião, comportamento corporal até, constroem sua imagem baseada na sua personalidade, mas esta não é uma afirmação sensata e para dó de muitos que tentam todos os dias conquistar olhares, personalidades estão entrando fora de foco neste exato momento.

A cultura de massa não é a responsável. Os antagonistas também se generalizam pelo exato fato de divergirem dos demais que cederam e agora amolam os degraus. Todos encaminhando-se para um igualamento e para o fim (não apocalíptico) da criatividade.

Remoí incontáveis vezes ideias semelhantes as anteriores durante o período de ausência. Cheio de remorsos, estipulei os pontos “chave” dentro dos quais quero trabalhar e coloquei em vigor aquilo que já fosse possível de se realizar agora. Para curar, cortei as cordas que me uniam a última fase. Espero que esta Hégira tenha um final feliz e que se der sorte nunca mais me verá. Aquietei-me e minha consciência está límpida como um cristal.

Ocupo meu tempo lendo e o que se repete junto com o ano bissexto explico numa próxima!

A Fuga

 

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Anteriormente denominada por mim como exílio, as férias estão sendo capazes de revelarem agora algo muito além desta pequena visão antiquada. Mais do que uma exclusão consciente, essa fuga das relações se mostra como um momento de tomada de consciência. A quebra eficiente do ciclo de histerias, atravessada pelo cuidado devido com as horas de sono, favorece em cem por cento o processamento de informações.

Fatos ocorriam sem que eu raciocinasse os prós e os contras de maneira adequada, deixando tudo de lado em propósito de manter contato com o círculo social, supostamente mais importante. Essa técnica fajuta de deixar acumularem-se lembranças amargas mostrou-se totalmente ineficiente quando trabalhada sobre animais canibais como nós somos. Nenhuma resposta tão adequada para tantos porquês, antes vaga. Meus grandes problemas acabaram se revelando como consequências do subconsciente primitivo alheio: Aleatório, livre e ainda regido pelos instintos.

Deixo um pouco de lado essa crítica porque se a jornada caquética pela qual sociedade passou não surtiu efeitos conclusivos sobre o cérebro, um pedido meu neste espaço não seria mais forte do que milhares de anos contados em simples livros de história. Quis apenas expor uma das conclusões que brotaram nessas últimas semanas de abstinência e que tentou explicar tantas escolhas erradas, acusando a culpa do próximo – como era esperado de ser.

Aliás, o melhor desse isolamento é que meus pensamentos voltaram a ser um campo fértil ao invés daquela área de lama salgada e fétida, infestada de fantasmas do passado. Na primeira semana fui fechando o que se encontrava em andamento na mente e na segunda descansei para que a partir da terceira semana, preguiçosamente, pudesse mexer no que havia vivido, digerindo o que pudesse ser conveniente e quem sabe guardando um rancorzinho.

Na balança, concluo que o ano não foi todo mal. “Diz-se que apenas o capitão tem o direito de afundar com o navio.” Você pode e deve saltar do barco antes que ele se vá. Aplaudi de pé e com lágrimas a brotar, a coragem demonstrada, a ousadia e o diálogo dispensado comigo. É estranho ter um sentimento destes, algo semelhante à satisfação mesclada com agradecimento, mas mesmo sem argumentos para minhas maluquices, sem razões ou pretextos para isso, acredito no futuro iniciado com a fuga. 

Right as Rain

Finalmente posso dizer que a temporada dos títulos em letras maiúsculas se foi. E desta vez não houve aumento de peso ou lágrimas, acredito que com o aumento da freqüência com que isso acontece, conseguimos descobrir um pouco mais sobre quem realmente somos. Foram apenas duas semanas nesta situação até que transferi toda a aura de angústias para os ombros de outra pessoa e espero que ela me ajude a lidar com isso. Eu que usualmente reclamava por estar cansado, me renegarei a esperar. Esta é a oportunidade certa de agir.

Posso não estar usando a pontuação corretamente, mas com toda essa variação de humor constante, provavelmente daqui a alguns dias já vou olhar esta postagem com maus olhos, como olhei as que escrevi nos últimos quatro dias e as apaguei. Esta é a média, a conciliadora de todas, para que de alguma forma eu transmita algo para quem lê Almas Mortas. Transmitir o que? Para ser mais específico, deixá-los a parte de que talvez este exército de fantasmas, idêntico ao do livro homônimo em sua passividade, parta finalmente sem seu dono. Abandonei por tempo demais os meus princípios primordiais. Moldei-se muito às necessidades e só consegui estas memórias pequenas que me enchem agora, mas que dias depois não vejo valor.

Sabes, moldar-se é fácil, o que você tem que fazer é esquecer seus sonhos e acatar as decisões imbecis da maioria. Você, agindo em grupo, pode ser mais bem quisto por este grupo do qual faz parte, aumentando suas relações e sua posição na escala irreal que comanda, mas sua consciência grita toda noite dizendo que aquele não é você. Realmente, perdi-me e não soube mais quem eu era. Acordei desse torpor relembrando-me das coisas que costumava dizer que faria quando era criança e que ainda não cumpri. Agora tento reparar a homogeneização a qual sofri conscientemente. Só de pensar nesse ciclo se fechando novamente sinto medo. Medo da canção de mim mesmo e o rumo que ela me guiará.

Acordar desta maneira é fantástico. A quantidade de energia e a força que parecem estar a minha disposição no momento fazem da relva na qual vivo um canteiro para as bases de um futuro no mínimo animador. Estou mudando mais uma vez, voltando atrás segundo alguns que costumeiramente liam Ele Não Disse Isso, mas agora o objetivo é crescer, amadurecer com o decorrer do tempo. Reinventando-me mais uma vez. Também odeio a passagem de muito tempo em tão poucas frases promovedoras de uma utopia, mas percebi que não sou vago quanto a opiniões, percebi que sou forte e que quero ser tão certo quanto a chuva o é.